Todo ser humano, independentemente de onde viva ou da cultura a que pertença, está passando por um processo fundamental de aprendizado neste mundo: a iniciação no amor. Essa iniciação é, na verdade, o maior e mais essencial de todos os desafios espirituais. Não se trata do amor romântico idealizado pelos contos de fadas ou novelas, mas de um amor profundo, divino, livre do ego, do medo, da posse e da exigência.
Jesus nos deixou um novo mandamento, que resume toda a Lei e os Profetas: “Que vos ameis uns aos outros.” Esse ensinamento é a chave para uma vida plena, harmoniosa e feliz. Ele não é apenas um conselho moral — é uma lei espiritual, viva, universal, tão poderosa quanto a lei da gravidade. Ignorá-la é atrair sofrimento. Cumpri-la é abrir as portas do céu aqui e agora.
O filósofo russo Ouspensky afirmou, em sua obra Tertium Organum, que “o amor é um fenômeno cósmico”. Para ele, amar verdadeiramente é transcender as limitações do mundo tridimensional e entrar no “quarto mundo dimensional” — o “Mundo do Maravilhoso”, onde a realidade se expande, os milagres se manifestam e a alma se liberta.
O Verdadeiro Amor
O verdadeiro amor é altruísta. Ele não prende, não exige, não cobra, não controla. Ele não nasce do medo de perder, nem da necessidade de possuir. O amor verdadeiro é como uma fonte transbordante: ele se oferece livremente, por pura alegria de dar.
É Deus em manifestação. É a energia mais poderosa e magnética do universo. O amor puro atrai naturalmente tudo o que precisa. Ele não implora, não força, não mendiga atenção ou afeto. Ele simplesmente é, e por ser, transforma.
Porém, quase ninguém conhece ou experimenta o verdadeiro amor. O que chamamos de amor geralmente é apego, egoísmo, ciúme, carência ou medo. Essas emoções nos afastam do amor real e criam sofrimento.
A inveja, por exemplo, é um dos maiores inimigos do amor. Quando imaginamos que a pessoa amada está se interessando por outra, nossa mente entra em tumulto. Passamos a alimentar pensamentos negativos, suspeitas, ressentimentos. E, se não interrompemos esse ciclo, esses medos acabam se tornando realidade, pois tudo o que projetamos intensamente com emoção se materializa de alguma forma.
O Amor Cura, o Ódio Adoece
Certa vez, uma mulher me procurou em profunda angústia. Estava dilacerada pela dor da rejeição. O homem que ela amava havia terminado o relacionamento e a trocado por outras mulheres. Disse, inclusive, que jamais se casaria com ela.
Tomada pelo ciúme e pela mágoa, ela disse com lágrimas nos olhos: “Eu o amava tanto… Como ele pôde me deixar assim? Espero que ele sofra como me fez sofrer!”
Então, olhei nos olhos dela e disse com suavidade, mas com firmeza: “Você não o ama. No momento, você o odeia.”
Ela ficou em silêncio. Então continuei: “Você não pode receber o que nunca deu. O verdadeiro amor não exige retribuição. Ele simplesmente ama. Dê a esse homem um amor perfeito, altruísta, que não cobra, que não critica, que não condena. Abençoe-o sempre que pensar nele. É isso que cura.”
Ela retrucou: “Mas como posso abençoá-lo se nem sei onde ele está?”
Respondi: “Então ainda não é o verdadeiro amor. O verdadeiro amor não depende da presença física da pessoa. Ele é uma atitude interna. Quando você enviar verdadeiro amor ao universo, o verdadeiro amor retornará a você, seja através desse homem ou de outro equivalente. Se ele não for a sua escolha divina, você perceberá que não o deseja mais.”
Meses se passaram. A dor ainda existia, mas ela começou a trabalhar consigo mesma. Em vez de alimentar a revolta, começou a vigiar seus pensamentos e sentimentos. Eu lhe contei sobre uma irmandade na Índia, cujos membros nunca diziam “bom dia” uns aos outros. Em vez disso, diziam: “Saúdo a divindade em você.”
Eles saudavam essa divindade em todas as criaturas — humanos ou animais selvagens — e nunca foram feridos, pois viam apenas o divino em cada ser. Disse a ela: “Saude a divindade nesse homem. Diga em pensamento: ‘Eu vejo sua essência divina. Vejo você como Deus o vê: perfeito, feito à Sua imagem e semelhança.’”
Pouco a pouco, ela foi se acalmando, tornando-se mais equilibrada. E um dia, sem perceber, disse com leveza: “Deus abençoe o Cap, onde quer que ele esteja.” Ele era capitão, e ela costumava chamá-lo de “o Cap”.
Sorri. “Agora isso é amor verdadeiro. Quando seu círculo interior estiver completo, e você não for mais perturbada por essa situação, o amor virá até você — ou através dele, ou de seu equivalente.”
Algumas semanas depois, recebi uma carta com apenas três palavras: “Nós nos casamos.” Ela havia finalmente se libertado do medo, da posse e da dor. E o amor a encontrou.

O Sofrimento e a Lei Espiritual
O sofrimento não é necessário para o crescimento espiritual. Mas, infelizmente, ele é quase sempre o despertador da alma. As pessoas raramente evoluem quando estão confortáveis. Quando estão felizes, muitas vezes tornam-se egoístas, esquecem da gratidão, e colocam-se acima dos outros. Isso ativa automaticamente a lei do retorno e do karma.
Vi isso acontecer com uma mulher que tinha um excelente marido. Ela costumava dizer: “Eu não me importo com o casamento. Não tem nada a ver com ele, ele é ótimo. Só não gosto dessa vida de casada.”
Sua indiferença semeava uma realidade inconsciente. Um dia, seu marido confessou que estava apaixonado por outra mulher e foi embora. Ela ficou arrasada.
Expliquei: “Você mesma criou isso com suas palavras. Seu subconsciente ouviu que você não queria estar casada, e trabalhou para torná-la solteira. As pessoas dizem o que querem, e depois sofrem quando recebem.”
Ela compreendeu. Assumiu a responsabilidade e encontrou paz. Mais tarde, disse que os dois estavam mais felizes separados.
Amor como Inspiração
Quando uma mulher se torna indiferente, crítica ou deixa de ser uma inspiração para o companheiro, ele se sente desmotivado e infeliz. O amor que antes o impulsionava desaparece, e ele busca esse estímulo em outro lugar.
Lembro-me de um homem abatido que me procurou, miserável e sem esperança. Sua esposa, fascinada por numerologia, havia consultado um mapa numerológico e disse que ele nunca seria ninguém, pois era um “dois”.
Respondi: “Pouco importa seu número. Você é uma ideia perfeita na mente divina. O sucesso e a prosperidade já estão preparados para você pela inteligência infinita.”
Em poucas semanas, ele conseguiu um bom emprego. Em menos de dois anos, tornou-se um escritor de sucesso. Quando um homem ama o que faz, ele floresce. O verdadeiro artista pinta por amor à arte, não por fama ou dinheiro. Seu melhor trabalho nasce dessa entrega. Mas quando ele cria apenas para sobreviver, sua obra é fraca, sem alma.
A Relação com o Dinheiro
Ninguém pode atrair o que despreza. Isso vale também para o dinheiro. Muitos artistas vivem na pobreza porque dizem: “Dinheiro não significa nada para mim. Tenho até desprezo por quem o tem.”
Essa mentalidade afasta o dinheiro. Ouvi um artista criticar outro: “Ele não é bom de verdade. Tem dinheiro no banco!” Essa atitude, por si só, o separa da prosperidade. Para atrair algo, é preciso estar em harmonia com isso.
O dinheiro, quando compreendido corretamente, é uma expressão de Deus. É liberdade de limitação e escassez. Deve circular, ser usado com sabedoria, compartilhado com alegria. Acumular dinheiro por medo ou ganância bloqueia o fluxo da abundância.
Isso não significa que não se deva ter bens, propriedades, ações ou investimentos. A Escritura diz: “Os celeiros do justo devem estar cheios.” Mas é importante estar sempre disposto a compartilhar quando necessário. Liberar dinheiro com fé e alegria abre caminho para mais. Deus é a fonte inesgotável e infalível.

O Perigo do Apego ao Dinheiro
A história contada no filme Ganância é um alerta. Uma mulher ganhou cinco mil dólares na loteria. Em vez de usar o dinheiro com sabedoria, ela acumulou obsessivamente. Deixou o marido passar fome. Por fim, esfregava pisos para sobreviver. Amava o dinheiro mais do que qualquer coisa, e terminou assassinada, tendo o dinheiro arrancado dela.
Esse é o verdadeiro significado do versículo: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.” O dinheiro, em si, é neutro — pode ser uma bênção ou uma maldição, dependendo do uso que se faz dele. Quando se torna mais importante que o amor, ele traz desgraça e doença.
Amor: O Caminho de Deus
Siga o caminho do amor, e tudo o mais lhe será acrescentado. Pois Deus é amor, e Deus é também a fonte. O amor não é fraqueza — é a mais alta força do universo. Aquele que ama está alinhado com o Todo. Já aquele que escolhe o caminho do egoísmo, da ganância, da crítica e da dureza, afasta-se da oferta divina.
Lembre-se: ninguém é seu inimigo, ninguém é seu amigo — todos são seus professores. Cada situação, cada pessoa, tem algo a ensinar. Quando aprendemos a lição, nos tornamos livres.
A iniciação no amor é o verdadeiro propósito da vida. Amar com liberdade, com verdade, com compaixão, com desapego — esse é o caminho da alma desperta. Quando você se torna um com o amor, tudo aquilo que é seu por direito divino virá até você — sem esforço, sem luta, sem dor.